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Quando os milagres acontecem..

  • Foto do escritor: Fernanda Pereira Medeiros
    Fernanda Pereira Medeiros
  • 22 de jun. de 2017
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de mai. de 2024

Milagre, substantivo masculino, acontecimento inexplicável pelas leis naturais, acontecimento formidável. O significado da palavra milagre ao dicionário está, corriqueiramente, contido no nosso cotidiano..


“Só por um milagre, isso aconteceria..”

“Você veio, que milagre!”

“Os milagres do Cristo..”.


Enfim, tudo aquilo que foge das explicações que nós, humanos, do alto da nossa superioridade ilusória, conseguimos atingir com nossas explicações teóricas ou empíricas. Nomeamos de milagre tudo aquilo que, AINDA, não conseguimos explicar.


A maioria das pessoas que se considera religiosa, tende a colocar nas mãos do sagrado esses milagres, esses acontecimentos que o homem ainda não desenvolveu uma teoria a respeito. Antigamente, os xamãs, as curandeiras, as benzedeiras e os santos, desfrutavam mais a patente desses milagres. No decorrer da modernidade foram, pouco a pouco, sendo substituídos pelos milagres da ciência e tecnologia. A indústria farmacêutica, por exemplo, se apropriou de alguns desses conhecimentos e avançou, chegando ao ponto de produzir doenças passíveis de cura pelos próprios remédios que produzem.


Mas, e o nosso potencial de produzir milagres, se existe, para onde foi? O quanto acreditamos na nossa capacidade de produzi-los? Se são divinamente humanos, por quais motivos custamos perceber os milagres que nós mesmos produzimos?


Me refiro ao milagre criativo, milagre do cotidiano.. aquelas nossas pequenas atitudes que dia após dia vão constituindo ideias criativas, configurando relações que emancipam. Para ser mais clara: será que não é um milagre aquela comida delícia que conseguimos fazer diante dos poucos ingredientes presentes em uma geladeira antes de fazer as compras? Não seria um milagre a capacidade de alguns casais que diante da improvável semelhança entre as criações de famílias distintas, conseguirem ultrapassar as diferenças e manter uma convivência sem mortes por anos? Mesmo que essa convivência chegue ao fim, e o período que conseguiram permanecer juntos? As jantas que fizeram juntos? Os sonhos que, mesmo por um curto espaço de tempo, foram compartilhados? Será que todo milagre é consolidado ou eles podem durar questão de segundos?


E se todo milagre deve ser consolidado, não seria um milagre a capacidade de alguns familiares em executar a criação de sua prole por anos, apesar dos tantos perigos que um bebê humano está sujeito? Mesmo que não sejam filhos ideais, os filhos dos sonhos com os futuros dos sonhos, não seriam os milagres pertencentes ao mundo real e não do plano do ideal?


Somos fazedores de milagres, milagres cotidianos. Milagres que pegam transporte público quando parecem não caber mais ninguém lá dentro. Milagres que acordam cedo, quando todas as circunstâncias nos fazem permanecer dormindo.

Por vezes escutamos que os milagres estão nas pequenas coisas, em um dia ensolarado, em uma ajuda que aparece sem que esperemos, em um dinheiro que aparece quando as contas já estavam certas de que não seriam pagas. Nos dizem que os milagres estão no canto de um passarinho, num arco-íris que aparece depois da chuva..


Mas, talvez, eles estejam em nós. Na capacidade humana de ser milagre ao outro. Um milagre humano que acontece no silêncio, no esforço, no “perrengue”, no dia a dia.. Um milagre que de tão rotineiro, nem nos damos conta de que está acontecendo, ou você acha que não é prova de um milagre conseguir ler um texto extenso?


Nosso corpo de animal mamífero não foi naturalmente programado para as conquistas sociais que atingimos: a capacidade de ler, de pensar, de memorizar, de sentir afeto. Até mesmo nossa capacidade de andar sobre os dois pés poderia ser considerada um milagre, porque não atende às leis naturais. Não é natural nossa capacidade tecnológica de voar, não é natural pensar, amar.. tudo isso é resultado de uma história de relações que se constituem por uma luta de motivos cotidiana. Milagre é luta, luta que empenhamos todos os dias.


Talvez o que realmente nos falta é acreditar mais nos milagres.


Ter mais fé em nosso potencial enquanto seres “milagreiros”, cotidianamente humanos.



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