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Devir

  • Foto do escritor: Fernanda Pereira Medeiros
    Fernanda Pereira Medeiros
  • 7 de jun. de 2017
  • 2 min de leitura

Atualizado: 9 de mai. de 2024

Desde muito cedo nos deparamos com a ideia de pensar sobre o futuro. Já quando criança, a gente imagina o que vai ser quando crescer, os caminhos que vamos trilhar, as paixões que vamos encontrar.. paixão por gentes, por profissões, por hobbies..


Se imaginar nesse contexto parece um pouco mais fácil, não há curvas na estrada de se imaginar quando se é uma criança, não contamos com as intempéries do cotidiano, com tudo aquilo que parece atrapalhar que nos tornemos o que um dia idealizamos. Ou seja, quando somos crianças não contamos com os tombos que vão acontecer, com as contas que não findam, apesar do salário já ter acabado.. não contamos com as doenças que podem vir a acontecer e que nos paralisam ou paralisam as metas que estávamos buscando.


Imaginar-se no futuro quando se é uma criança é, na verdade, imitar a realidade do adulto que temos acesso. É como se imaginar piloto apenas no momento da corrida, sem perceber que há necessidade de treino intenso e massacrante ao corpo que precisa aguentar a velocidade que não está habituado; ou se imaginar mãe de boneca que detém o poder de silêncio da pequena, sem se dar conta que esse poder vem mergulhado nas inseguranças de fazer o certo ou errado sem poder consultar o Google pra solucionar todas as dúvidas que passam na cabeça dos pais quando estão em processo de criação dos filhos.


Imaginar-se quando se é criança nem conta com a intensa discussão de gênero que poderia surgir a partir desse simples relato descrito aí em cima..


Na adolescência o futuro toma outra forma, tem outro gosto. O gosto doce e ácido da incerteza. Começamos a nos dar conta que nem tudo é tão certo e errado, ou que essas duas dimensões nem sempre são tão delimitadas. Alguns delegam esse devir à religião, que seja “o que Deus quiser”, ou ao que o “sagrado preparou para mim”. Outros delegam ao ser humano mesmo, mas não necessariamente a si, “vou ser médico, porque minha família é uma família de médicos”, “vou cumprir o sonho do meu pai que era ser advogado”...


Começamos a nos interessar por saber o que realmente vai acontecer conosco, sem nos dar conta de que os principais responsáveis pelo o que vai acontecer, somos nós mesmos.


Saíamos da adolescência, diferentemente do que alguns livros de desenvolvimento pregam, quando começamos a abandonar essa visão idealizada do devir. Uma visão na qual, independentemente do que possa acontecer, nós ("centros do universo"), vamos certamente nos dar bem. Um futuro, idealizado, que parece nunca chegar.


Se imaginar no futuro é uma característica humana. Nenhum outro animal tem dimensão de tempo e espaço suficiente para se imaginar em uma realidade que ainda não aconteceu. O que, a mim, nos torna humanamente lindos.


Essa capacidade que parece divina, mas é essencialmente humana, é a capacidade do devir. O devir é humano. E é sobre ele e sobre as relações humanas que engendramos ao longo dessa nossa trajetória que se pretende escrever nesse espaço.


Um espaço de reflexão sobre todas essas relações lindamente humanas.



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