Bem-vinda de volta à terapia.

Processo terapêutico .. eita momentinho intenso, doloroso e digno de completude! Às vezes me pergunto se o lago de Narciso não é a própria metáfora da terapia. Olhar-se de novo para ver o novo.

Os bons processos de terapia são assim, dialéticos! Ao mesmo tempo em que você percebe a dificuldade e angústia de se olhar mediante o olhar do terapeuta, você também percebe a delícia de ser o que se é. De poder contemplar a sua própria história e desfazer os nós possivelmente confeccionados no decorrer do seu desenvolvimento e que te constituem enquanto ser humano inteiro e falho.

Poder tomar consciência desse modo de funcionar que, por vezes, lhe parece estranho, mas tão familiar, é um privilégio dos que tem coragem para mergulhar no lago que Narciso acabou encontrando a morte.

Narciso, Caravaggio

Muitas vezes no processo terapêutico o que se tem como norte é essa morte.

Morte dos modos de funcionar que admiramos, que reproduzimos, mas que não nos são saudáveis, não nos trazem vida e sim uma angústia abafada pela necessidade constante de se manter o tempo inteiro com o sorriso no rosto, abafando as amarguras que carregamos conosco e que nos impedem de caminhar, nos impedem de viver intensamente essa vida que, até que nos provem o contrário, é única.

Tomar consciência é o primeiro passo à liberdade, pois é pela consciência desses modos de funcionar que cultivamos que podemos então fazer escolhas.

Escolher se pretendemos continuar com os mesmos traumas e medos, as mesma preocupações e palpitações, escolher se mantemos os motivos e sentidos que norteiam esses modos de funcionar ou se nos aventuramos a desbravar novos motivos e significados à nossa caminhada.

Perceba que não é o terapeuta que lhe dá esses novos sentidos, ele apenas faz a mediação no “olho do furacão”, te faz olhar para o espelho d’água.

É você quem decide se vai mergulhar ou não.